Há muito tempo se discute o papel do estresse e dos distúrbios a ele relacionados (ansiedade e depressão) nas alterações bucais. A novidade é que, dentro do contexto da odontologia de precisão ou personalizada, marcadores do estresse podem servir como aviso para que determinados pacientes sejam monitorados mais de perto, com recalls de prevenção mais rigorosos e também para que sejam compensados previamente às cirurgias de implante dentário e enxertos ósseos.
O principal responsável pela ligação entre estresse e condições bucais é o cortisol, hormônio produzido pelo corpo em níveis mais elevados em situação de estresse. O cortisol afeta diretamente a suscetibilidade à doença periodontal - inflamação da gengiva, altamente prevalente na população, que leva à perda do osso que suporta os dentes na boca e que, se não tratada, resulta na perda de dentes.
A suscetibilidade de uma pessoa desenvolver doença periodontal é multifatorial, incluindo fatores do perfil microbiano (tipos de bactérias que habitam a boca), homeostase óssea (equilíbrio entre deposição/reabsorção do osso que sustenta os dentes na boca), regulação do sistema imunológico e carga inflamatória sistêmica (nível de substâncias ligadas à inflamação circulantes no organismo). E o cortisol é investigado por impactar todos esses fatores.
Estudos nos campos da psiconeuroimunologia demonstram que o cortisol provoca supressão do sistema imunológico e aumento da carga inflamatória sistêmica, elevando o risco a doenças, incluindo a doença periodontal. O cortisol também afeta localmente os tecidos ao redor do dente, modificando o perfil microbiológico (favorecendo a presença de bactérias patogênicas) e contribuindo para a progressão da doença periodontal. Além disso, os indivíduos estressados têm maior probabilidade de adotar hábitos nocivos a saúde bucal, como tabagismo, dieta pobre e higiene bucal ruim.
Atualmente é possível, por meio de exames de sangue e saliva, avaliar a disponibilidade de biomarcadores do estresse (cortisol, DHEA e Cromogranina A) e marcadores inflamatórios (Interleucinas IL-1b e IL-6). Esses dados podem ser utilizados como indicadores importantes na avaliação de risco para doença periodontal, guiando estratégias personalizadas de prevenção e tratamento. Também podem ser usados para identificar e ajustar pacientes com carga inflamatória sistêmica aumentada antes de procedimentos cirúrgicos de reabilitação bucal, aumentando os índices de sucesso nessas terapias.
Controle o estresse e a ansiedade, sua saúde bucal agradece!
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